domingo, 18 de maio de 2014

Sobre isso de "melhor idade"



Vai ver que resolveram rotular como da “melhor idade” a pessoa que desfruta de certos "privilégios", como por exemplo, o de furar a fila para votar...se bem que comigo já aconteceu e,  rendeu um bom blá-blá   por conta de um  cidadão que me qualificou - e  que pensando bem, não deixa de ser um elogio - de  “mais inteira do que ele” e que, por essa circunstância, deveria ir lá para o final da fila.

Vai ver é por conta da aposentadoria, o que também não significa muito já que muitos deste grupo, ainda trabalham e sobre seus ombros recai o custo de ainda ter que sustentar a família.

Então, a classificação de melhor idade não deve ser por conta de certos mimos, como o direito a um assento na condução,  vagas exclusivas  nos estacionamentos,  passagens mais baratas, etc. Mas, ainda não sei bem o porquê.

Há quem também não goste de ser chamado de idoso, talvez pela associação com Matusalém, cuja existência foi  "repleta de anos de vida”. Neste caso mais adequado seria parabenizar, considerando os tantos obstáculos já ultrapassados... só que para a maioria a sobrevivência não anda nada fácil. 

Antigamente,  ao invés de supermercados e suas filas, seus carrinhos desengonçados repletos de produtos industrializados, era só ir em direção ao quintal. De lá vinham  flores e frutas; aves e ovos, carne e leite, verduras e legumes.  

Ao invés de televisão e computador, com suas imagens prontas e instantâneas, existia o rádio, e a partir do que diziam seus locutores, a imaginação de cada ouvinte acrescentava as imagens. Era tempo de se enviar cartas, às vezes com alguma recordação dentro, como uma pequena flor, uma gota de perfume, algo assim...nada de torpedos, redes sociais e, todos entendiam e sentiam a mensagem, sem imagens impressas, mas com o sentimentos indelevelmente expressos.

  À noitinha, chegavam vagalumes de todos os lados, e o seu piscar encantador e mutante era puro encanto... pouco depois,  o céu  se recobria  de estrelas, deixando vago apenas o espaço para um luar sereno.  E, claro, tudo isso, sem querer,  enchia o espírito de paz e amor, portanto,... muito antes dos hippies/Beatles.
 
Era bem mais bonitinho cantar, ao invés de “prepara...é hora...das poderosas que expulsam as fogosas.. e você fica de cara ba-ban-do” - afff, que coisa horrorosa!  -  “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, volta e meia vamos dar”. 

Ninguém se entupia de silicone e,  peitões mesmo, só os naturalíssimos: por exemplo, os da Jane Mansfield  ou os da Lollobrígida que, quando apareciam nas telas dos cinemas,  despertavam secretos suspiros e os homens ficavam “ba -ban-do!”   Bundão, mesmo, sempre existiu, sobretudo, no meio político, mas nunca como hoje e no Brasil!
 
  Prezados, quem viver verá e ninguém escapa: a lei da gravidade se aplica bem aos que chegaram primeiro:  caem os cabelos e muitas outras partes mais; enrijecem as flexões, então é difícil dar uma abaixadinha, até para ajoelhar...e rezar por dias melhores; crescem fios isolados e inesperados!

Melhor idade, portanto, no meu entender  não é um conceito associável à idade temporal.


Pela vida temos dias e tempos  de cores e possibilidades infinitamente variáveis. A melhor idade é uma avaliação individual, aquela em que  se tenha um bom ouvinte,  que me fale ou escreva algo agradável, alguém que lembre da minha presença na vida; será  certamente o tempo em que eu ainda goste de música, poesia, de plantar e degustar  abóboras verdes ou maduras; sem medo, o tempo em que eu saiba o que é amor pelos meus e pelo próximo, enquanto eu possa trabalhar e com isso tentar rodar a ciranda cirandinha à minha volta. Se o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, a melhor idade será sempre aquela em que o sonho fica ou ficou, aquela cujo coração de alguém a gente tocou...mesmo quando tudo já tenha passado. E só se saberá qual idade terá sido esta, no final.

 

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