E porque é tarde, chove e
uma mansidão paira por aqui, uma boa
ideia foi a de fazer bolinhos de chuva. Essas pequenas delícias que me trazem doces lembranças da infância, de tardes de aconchego e,
sobretudo, de duas entre as maiores mulheres de minha vida: minha mãe e minha irmã Sara.
De minha mãe as recordações vêm associadas às tardinhas igualmente chuvosas, em que a criançada era obrigada a permanecer dentro de casa. Enquanto o lanche era por ela preparado e o aroma já tomava conta do ambiente, de olho fixo nas vidraças, perdia meu pensamento nas as gotas que contra esta se chocavam. Pareciam pequenos cristais. Escorrendo vacilantes, encontravam-se com outras e com isso ganhando corpo e, formando um curso ganhavam força e seguiam vidraça abaixo...aquilo era tão encantador. Ao passar, quase sempre lá fora estava o espetáculo maior: um arco iris! E todos, a pretexto de contar suas cores aproveitavam para pular dentro das poças que se formavam. Devidamente ensopados, vinha a hora do banho e em seguida contritos ouvir pelo rádio a Ave-Maria. Os bolinhos de chuva prestavam-se para manter
a criançada em aconchego, protegida. Quanto ao arco íris os adultos costumavam associar sua aparição com o prenúncio de que alguma viúva iria casar...lá vinham as especulações.
Quanto à minha irmã, espanhola lindíssima, as lembranças levam para as tardes de inverno, em casa de praia, bem simples ... Às noitinhas, invariavelmente, tínhamos uma sopinha de siri, sardinhas ou pescadinhas fritas, pão quentinho, à luz de lamparinas ou lampiões...um alegre joguinho
de cartas, até bater o sono. Tão pouco e tão simples para desfrutarmos a Paz, sem sequer dar-nos conta disso!
Doces e singelas lembranças, recorrentes em
tardes calmas e chuvosas. Tempos vividos, docemente sentidos e por felicidade, vem essa vontade de chorar.
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