terça-feira, 20 de maio de 2014

A Caminho com Maiakóvski - de Eduardo Alves da Costa

Texto atribuído a autores estrangeiros consagrados  como Wladimir Maiakóvski, Garcia Marquez e Bertold Brecht entre outros, os tão conhecidos quinze versos  no poema destacados, na verdade são de EDUARDO ALVES DA COSTA, nascido em Niteró,  Rio de Janeiro e autor de vários livros.  Ao que consta, o equívoco, por alguma razão, começou quando Roberto Freire em um de seus livros epigrafou ao poeta Wladimir Maiakóvisky.

A Caminho com Maiakósvki
( de Eduardo Alves da Costa)
 

 "Assim como a criança humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.

Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.

Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.

No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, 
diante do juiz,  
talvez meus lábios
calem a verdade 
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
e acabo por repetir são mentiras.

Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.

A mim, quase me arrastam pela gola do paletó
à porta do templo e me pedem que aguarde  
até que a Democracia se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,  porque não estou amedrontado  a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas 
e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas no tempo da colheita lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.

Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.

Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.

Por temor, aceito a condição
de falso democrata e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
esconder minha dor diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!"

 EDUARDO ALVES DA COSTA

 Poema publicado no livro 'Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século'
 

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